January 9, 2017

Longe da meta: Filho Único


Desde 2013, o Ministério do Esporte construiria 249 projetos de infraestrutura voltados à base, mas levantou apenas um

Um único Centro de Iniciação ao Esporte (CIE) construído. Este é o legado da Olimpíada para os municípios brasileiros. Desde 2013, o Ministério dos Esportes selecionou e se comprometeu a erguer, país afora, 249 projetos de infraestrutura voltados ao esporte de base, identificação de talentos e formação de atletas olímpicos e paralímpicos, mas até hoje, quatro meses após os Jogos do Rio, concluiu apenas um, em Franco da Rocha, em São Paulo. O balanço consta de relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), aprovado em dezembro.



  Segundo o TCU, dos 249 projetos, orçados em R$ 891 milhões, apenas 95 estão licitados, e somente 39 obtiveram autorização para iniciar as obras. Até abril de 2016, o montante liberado não passou de R$ 25 milhões.
O Ministério dos Esportes atribuiu o mau desempenho a sucessivos cortes orçamentários, que chegaram a 79% dos recursos previstos. No Governo Dilma, os CIEs foram apresentados como principal ferramenta para democratizar o acesso ao esporte, na esteira dos Jogos do Rio. Ainda segundo o TCU, os dados mostram que nenhuma meta será cumprida, pois o planejamento previa construção de 83 centros, a cada ano, até 2018.

O tribunal informou que no ano olímpico o orçamento dos Esportes sofreu redução de 53% — de R$ 3,8 bilhões em 2015 para R$ 1,83 bilhão em 2016 — corte que deverá se repetir em 2017, quando estão previstos R$ 894 milhões. Para que as obras não se transformem em inacabadas, o TCU determinou que o ministério priorize a continuidade delas, antes de iniciar novas, conforme determina a Lei de Responsabilidade Fiscal. E que acompanhe o plano de gestão dos municípios, certificandose de que as prefeituras terão condições de manter as instalações. “Mais uma vez há riscos de desperdício de recursos públicos ante a potencial paralisação das atividades do CIE”, afirma o relatório. No papel, o prazo de conclusão das unidades seria de 180 dias, mas na prática foi o dobro — o único centro entregue demorou um ano para ficar pronto.

Os CIEs são ginásios poliesportivos, com academias e arquibancadas, projetados em três modelos e tamanhos, oferecidos pela pasta aos municípios. Neles, crianças e jovens podem praticar modalidades olímpicas como atletismo, badminton, basquete, boxe, esgrima, futsal, ginástica artística, de trampolim, rítmica, handebol, judô, levantamento de peso, lutas, taekwondo, tênis de mesa e vôlei. E paralímpicas como esgrima em cadeira de rodas, halterofilismo, vôlei sentado, goalball, judô e tênis de mesa.

Com custo estimado em R$ 3,6 milhões, o ginásio maior, que ocupa terreno de 7 mil metros quadrados, foi o mais escolhido pelas prefeituras — a maioria no Sudeste e Nordeste.

MARA BERGAMASCHI
O Globo, 9 de janeiro de 2016 

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