October 26, 2017

Expedição flagra mudanças ambientais após construção de Belo Monte

KELLY LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ALTAMIRA (PA)

 
Os carapanãs chegam pontualmente às 18h nas margens da Volta Grande do rio Xingu, poucos quilômetros abaixo da barragem que desviou o curso do rio para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA).

São pernilongos, medindo menos de um centímetro, que vivem em poças formadas ao longo do leito do rio e se atiçam nesse horário, a ponto de formar densas nuvens em torno dos humanos, em busca de sangue. Além do incômodo, são vetores de doenças como malária.

Sempre viveram por lá, mas com a redução do fluxo do rio após a construção da barragem, proliferaram a tal ponto que hoje inviabilizam a tradicional saída no fim de tarde para a pesca.

Também relegaram às lembranças os banhos de rio no pôr-do-sol, as dormidas na rede e, por fim, trancam todos em suas casas para assistir TV e dormir cedo.

Além dessas alterações, a construção de Belo Monte também atingiu o volume dos peixes pescados e os hábitos da população juruna –distribuída em três aldeias com pouco mais de 50 famílias às margens do rio– e na vida dos mais de 600 ribeirinhos que ainda vivem abaixo da barragem. Essas mudanças vêm sendo alvo de monitoramento do ISA (Instituto Socioambiental) e da Associação Yudja Mïratu da Volta Grande do Xingu.

O instituto promoveu uma canoada na última semana, com mais de 80 pessoas para remar 110 km Xingu abaixo, atravessando a área alagada e locais em que o rio está seco, o que obriga todos a literalmente carregar a canoa para atingir outro ponto de navegação.

A avaliação é que a pesca do pacu foi prejudicada. Peixe mais tradicional pescado pelos jurunas, ele agora está mais magro e vive doente.

Tradicionalmente, na época das cheias, o pacu se alimentava dos frutos caídos de árvores nas encostas do rio.


Quando as águas baixavam na seca, havia fartura. Agora, pouco mais de um ano após o fechamento da barragem, foi contabilizada a mortandade de mais de 16 toneladas desse peixe, o equivalente a quase o total pescado pelos jurunas em três anos.

"O aumento do volume de águas acima da barragem reduziu o oxigênio para os peixes, suprimiu a floresta do entorno e das ilhotas que apareciam nas secas, impedindo que seus frutos chegassem até eles", disse a pesquisadora Cristiane Carneiro, doutora em biologia aquática pela Universidade Federal do Pará, que monitora a fauna aquática na região há quatro anos.

Segundo ela, o problema compromete não só a segurança alimentar da população que tinha no peixe sua principal fonte de proteína animal e hoje consome mais produtos industrializados, mas também a renda dessa população que vivia quase exclusivamente da pesca.

Acima da barragem, o rio, quase sem correnteza e vegetação no entorno, não tem peixe, e se transformou num grande lago em frente a Altamira. O rio foi represado e desviado por um canal para gerar energia nas 18 turbinas de Belo Monte.

A partir da barragem, apenas um pequeno fluxo é liberado, num volume até 80% abaixo do natural. É ali que vivem essas comunidades impactadas diretamente.




 DRAMA

 
Para o cacique da aldeia Muratu, Gilliard Juruna, a canoada, na quarta edição, permite levar notícias do drama vivido para outros lugares, ao mesmo tempo em que põe os índios em contato com outras formas de pensar.

"Recebemos aqui biólogos, antropólogos, engenheiros, advogados e trocamos experiências. Eles nos dão ideias de como melhorar algumas coisas e também levam nossa história para que outros conheçam."

Alguns resultados já começam a ser visualizados, como um projeto de inclusão digital para as 22 famílias indígenas da aldeia, promovido pela advogada Ariani Sudatti, que participou pela segunda vez da canoada.

Ou a casa do artesanato juruna, construída na mesma aldeia, de olho nos ainda poucos turistas que passam pela região, comercializando principalmente bijuterias feitas com as tradicionais miçangas coloridas.

MINERAÇÃO
 
Já os ribeirinhos, que vivem em algumas ilhas abaixo da barragem, começam a olhar para um novo empreendimento que se anuncia para a região, a mineradora Belo Sun, de investimento canadense, como uma possível tábua de salvação para os males que chegaram com Belo Monte.

Não contemplados nos pacotes de contrapartidas da Norte Energia para as populações tradicionais afetadas pelo empreendimento, eles se dividem entre os que temem uma piora das condições com a possível instalação da mineradora e os que anseiam por uma realocação, apesar de o empreendimento ter tido sua licença suspensa pelo TRF (Tribunal Regional Federal) em abril.

"Estamos procurando uma forma de mudar o que está acontecendo, para não morrer de fome. Uma parte da população quer sair da região e espera uma indenização para começar um negócio em outro lugar. A outra parte, que não quer ser removida, espera uma recompensa, caso a empresa vá explorar o minério da região, ou mesmo uma forma de se integrar ao projeto para ter uma renda", disse o professor Francisco de Freitas.


Entre os indígenas, no entanto, a posição contra Belo Sun é ser ainda mais resistente do que frente ao empreendimento de Belo Monte. O cacique Gilliard Juruna disse acreditar que a mineradora deverá piorar ainda mais a situação local e que está aberto a ouvir a empresa, mas não permitirá que os mesmos erros sejam cometidos novamente. "Vamos retomar a luta."



October 25, 2017

Relatório final da CPI da Previdência afirma que deficit não existe


LAÍS ALEGRETTI
DE BRASÍLIA
(FOLHA DE SÃO PAULO)

O relator da CPI da Previdência, o senador Hélio José (Pros-DF), apresentou nesta segunda-feira (23), o relatório final da comissão, que investigou as contas de seguro social do país. O texto declara que "tecnicamente, é possível afirmar com convicção que inexiste deficit da Previdência Social ou da Seguridade Social".

A conclusão vai contra a constatação do TCU (Tribunal de Contas da União), que informou que o deficit previdenciário somou R$ 226,9 bilhões em 2016. Esse valor considera o rombo do INSS e do regime dos servidores da União.

Em vários trechos do relatório, o senador argumenta que as projeções sobre o tema apresentadas pelo governo não estão de acordo com a realidade e que elas foram construídas para justificar uma reforma que ele classificou como "drástica".

"São absolutamente imprecisos, inconsistentes e alarmistas, os argumentos reunidos pelo governo federal sobre a contabilidade da Previdência Social", escreveu.

A Secretaria de Previdência informou que "reafirma confiança nos dados que vêm sendo utilizados pelo governo, que são fiéis, fidedignos e têm metodologia longeva, com reconhecimento do Tribunal de Contas da União (TCU)". Disse, ainda, que respeita o trabalho da CPI e que vai avaliar o relatório.
TETO

O relatório também sugere o aumento do teto dos benefícios da Previdência para mais de R$ 9.370,00. O hoje é de R$ 5.531,31.

Para isso acontecer, é necessário alterar a Constituição. Uma emenda constitucional só pode ser feita com o apoio de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores.

Antes disso, a comissão tem que aprovar o relatório do senador para que seja de fato apresentada a proposta. O colegiado tem até 6 de novembro para apreciar o texto.

No relatório, Hélio José argumenta que o valor proposto corresponde a dez salários mínimos e que vai gerar o ingresso de recursos para a Previdência Social
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Apesar de a elevação do teto poder aumentar, no curto prazo, o valor de contribuições previdenciárias, essa medida aumenta a despesa com o pagamento de benefícios no futuro.

A sugestão de Hélio José ocorre no momento em que o governo planeja retomar a discussão da reforma da Previdência, apresentada no fim do ano passado pelo presidente Michel Temer.
O texto do Executivo, que também altera a Constituição, muda as regras para obtenção de aposentadoria e pensões, além de benefício assistencial.

A CPI da Previdência foi instalada em abril, durante o debate sobre as mudanças na Previdências propostas pelo governo. Desde o início das discussões sobre as denúncias contra Temer, contudo, a tramitação da reforma está parada na Câmara dos Deputados.


October 21, 2017

A Rocinha e o Camboja

Maria Carmem de Sá, O Globo

A invasão da Rocinha, há alguns dias, por cem homens fortemente armados assustou moradores e motoristas que passavam no entorno. Entre os invasores, certamente, havia adolescentes. Meninos trabalhando no tráfico de drogas é cena comum no Rio de Janeiro, e é raro a opinião pública fazer qualquer defesa deles.

Na mesma semana estreou em um canal de streaming o novo filme de Angelina Jolie, que narra a guerra civil do Camboja sob a perspectiva de uma menina recrutada como soldado e obrigada a lutar na linha de frente do exército. Aqui a empatia é imediata: como não se sensibilizar com a história de uma criança obrigada a realizar atrocidades?

Nas favelas cariocas, há décadas, crianças e adolescentes são cooptados pelo tráfico de drogas, considerado uma das piores formas de trabalho infantil pela Organização Internacional do Trabalho. Obrigados a realizar todo tipo de ato para proteger o território, muitas vezes são algozes de quem desafia o domínio da facção, que os faz reféns sem que eles se deem conta. Por que não despertam a mesma empatia que a menina cambojana?

A Anistia Internacional estima que existam aproximadamente 300 mil crianças-soldado em todo o mundo. Mas um adolescente carioca que trabalhe em uma boca de fumo não entra nessa conta. A expressão se aplica apenas a países que vivam situação de conflitos armados oficialmente declarados. Com facções se enfrentando diante de uma polícia acuada e desorganizada e um Exército que mobiliza 500 homens em busca de uma pistola, o Rio vive uma situação de guerra — só não oficialmente declarada.

Em tempos de discussão acerca da redução da maioridade penal, falta reconhecer que essa guerra existe e vitima principalmente a camada mais pobre da população, que dia a dia vê seus filhos engrossarem as fileiras de facções criminosas, tornando-se crianças-soldado. E que as soluções mágicas sempre prometidas jamais funcionaram na cidade maravilhosa no nome, mas um inferno cada vez maior para quem vive aqui.

“A melhor maneira de proteger as crianças dos conflitos armados é prevenindo esses conflitos”, disse Graça Machel, ex-representante especial da ONU para crianças e conflitos armados, por ocasião do 20º aniversário da Resolução 51/77 (1997) da Assembleia Geral sobre a proteção e os direitos das crianças que se encontram em meio a conflitos. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, uma educação de boa qualidade e um trabalho produtivo e decente são a chave para a paz e o desenvolvimento. Isso deveria valer para as crianças cariocas.

Reduzir a idade penal — sob o pretexto de combate à impunidade — é premiar quem, nas últimas décadas, com políticas equivocadas e corrupção em praticamente todos os setores, permitiu o surgimento de nossas crianças-soldado. Romper o ciclo de violência em que esses adolescentes estão inseridos é o verdadeiro desafio. No Camboja, a guerra civil acabou. Na Rocinha, parece estar longe do fim.
Adolescentes, soldados do tráfico, posam com armas em punho em favela do Rio de Janeiro (Foto: Felipe Dana / AP)
Adolescentes, soldados do tráfico, posam com armas em punho em favela do Rio de Janeiro (Foto: Felipe Dana / AP / G1)
 
Maria Carmem de Sá é coordenadora de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

October 20, 2017

A Cara do Rio


O DIA, OUTUBRO 2017

October 19, 2017

Open Talk of a Military Coup Unsettles Brazil


  • Last month, during a lecture at the Grande Oriente Masonic Lodge, in Brasília, a Brazilian Army general named Antonio Hamilton Martins Mourão said that the country’s military leaders had discussed overthrowing the government. Corruption investigations have ensnared successive Presidential administrations in Brazil, and Mourão said there was a limit to the political chaos the armed forces could tolerate. “Either the institutions solve the political problem through the courts, removing those elements involved in illegal acts from public life, or we will have to impose the solution,” he said. Wearing his official uniform, his chest laden with decorations, Mourão explained that his colleagues in the Army’s high command shared his view. “We have very well-made plans,” he went on, before ominously adding, “This solution won’t be easy. It will bring trouble, you can be sure of that.” When he finished, the audience broke into applause.

    Brazil is all too familiar with military coups—the last one, in 1964, brought on a twenty-one-year dictatorship. Mourão’s speech, then, was troubling enough on its own. But his superiors’ reactions were even more disturbing. No one in the civilian Administration publicly condemned his remarks, and the commander of the Army, General Eduardo Villas Bôas, refused to censure his subordinate for violating the prohibition on political speech by active officers. Instead, he called Mourão “a great soldier.” Confronted by a journalist on TV, he was compelled to weakly acknowledge that “dictatorship is never the best” solution, but he only doubled down on Mourão’s dark suggestion, saying that the armed forces had the constitutional authority to “intervene” when the country finds itself “in the imminence of chaos.” As the columnist Josias de Souza noted, Brazil’s constitution grants the military no such power. That did not stop another general, Luiz Eduardo Rocha Paiva, from making the same claim in a newspaper op-ed two weeks later.

    The generals are right about one thing: Brazil is in turmoil, economic and political. The country is just barely emerging from the deepest recession in its history, and President Michel Temer has been formally accused of leading a conspiracy to siphon off more than a hundred and eighty million dollars from government contracts. His predecessor, Dilma Rousseff, was impeached last year for violating budget rules. Dozens of lawmakers are facing their own corruption charges, and their cases have created a backlog at the Supreme Court—the only court that can try them. In the meantime, these lawmakers—politicians of various ideological stripes—have united to undermine the power of the judiciary. The phrase “the institutions are working,” stubbornly repeated by high officials, has become so hard to believe that on social media it now serves as an ironic refrain to highlight fresh disorder. Many Brazilians have lost faith in democracy altogether. In a poll taken after the comments by Mourão and Villas Bôas, forty-three per cent of the population said it supported a “temporary military intervention.”

    The 1964 coup was also supposed to be temporary. Brazilian generals—backed by the U.S. government—framed it as a necessary evil to preserve democracy from a Communist takeover. Before long, Presidential elections were cancelled, street marches were banned, and Congress periodically shut down. Thousands of suspected subversives were tortured, and more than four hundred were killed. Today, however, with the country registering sixty thousand homicides a year, plenty of Brazilians are nostalgic for those days of law and apparent order. Many believe that the generals cleansed the nation of graft. In reality, as a government truth commission showed in 2014, this perception only reflected the regime’s censorship of the press and control of the judiciary. Under the dictatorship, kickbacks lubricated Brazil’s political system just as they always had.

    Still, the myth survives, with dangerous implications. Its current embodiment is a soldier-turned-congressman, Jair Bolsonaro, who has been polling in second place for the 2018 Presidential election. When I spoke to him last year, he told me, “The military period was a time of glory for Brazil, when criminals were criminals, he who worked was recognized for it, and even in soccer we didn’t go through the embarrassment we do today, if you look at Germany’s 7–1”—a winking reference to Brazil’s epic semifinal loss at the 2014 World Cup. Bolsonaro once told a female lawmaker, “I won’t rape you because you don’t deserve it.” He has called the Afro-Brazilian communities known as quilombos “worthless even for procreating.” Of the organizers of an L.G.B.T.Q. art show, he said, “Tem que fuzilar os autores dessa exposição”—they should be lined up and shot. His solution to Brazil’s crime problem is to “give police free rein to kill.” He has cited Donald Trump as a political role model.

    In a Facebook video titled “A hug for General Mourão,” recorded after Mourão talked about overthrowing the government, Bolsonaro can be seen telling a fervent crowd in the city of Belém that the general is a patriot trying to keep his country from going under. The post has racked up half a million views. A slim majority of Brazilians still oppose an “intervention,” but surveys also rank the armed forces as the country’s most-trusted institution. Maurício Santoro, a political scientist at the State University of Rio de Janeiro, told me that the generals’ remarks may help Bolsonaro by recreating the regime-era image of honest soldiers crusading against corruption. And the threat of a coup should not be taken lightly. “It’s still an outside possibility,” Santoro told me. “But for the first time since the return of democracy, it’s on the table.”

Decisão sela a pior semana da Lava-Jato



Pedro Dias Leite, O Globo

A última semana foi a pior para a Lava-Jato desde que a operação foi deflagrada, há mais de três anos e meio. A reação dos políticos, ensaiada fazia muito tempo e anunciada desde que Romero Jucá clamava por estancar a sangria, por fim se concretizou.

Essa contraofensiva só foi possível porque o Supremo Tribunal Federal deu ao Congresso o impulso de coragem que faltava até agora. Ao autorizar deputados e senadores a rever decisões contra colegas acusados de corrupção, na prática chancelou que os políticos tomem as medidas de autoproteção.
Os 44 votos a favor de Aécio Neves no plenário do Senado e a maioria pró-Michel Temer na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara têm o mesmo significado: não importam as investigações da Lava-Jato, os áudios comprometedores, as malas de dinheiro, as dezenas de delações; se depender dos políticos, e agora depende só deles, ninguém será punido.

O movimento é amplo e pluripartidário: salvou Aécio, salvará Temer. Se Lula estivesse nas mãos de seus pares, e não nas de Sergio Moro, poderia dormir tranquilo na cobertura em São Bernardo.
Éesse contexto de ataque escancarado à Lava-Jato que permite que Aécio, gravado aos palavrões com Joesley Batista, vá à tribuna se dizer vítima de “ardilosa armação”.

O clima mudou, e a vergonha e o temor dos políticos diante das denúncias de corrupção deram lugar aum enfrentamento aberto. O pior ainda está por vir. Começa a ganhar força uma série de iniciativas que enterram de vez a Lava-Jato — como a mudança da decisão que determina a prisão após sentença em segunda instância e regras em debate para dificultar as delações premiadas. Nessa nova realidade, aumentam as chances de que medidas fundamentais para o combate à corrupção sejam revertidas.

October 18, 2017

Harvey Weinstein’s Media Enablers


  • By Jim Rutenberg, www.nytimes.com
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    Now that The New York Times has put together a stomach-turning chronicle of alleged sexual harassment by the movie mogul Harvey Weinstein — complete with brave, on-the-record statements from, among others, the actress Ashley Judd — we’re hearing a lot about how the story of his misconduct was “the worst-kept secret” in Hollywood and New York.
    But until now, no journalistic outfit had been able, or perhaps willing, to nail the details and hit publish.

    For decades, stars of Oscar-winning movies produced by Mr. Weinstein appeared on the covers of glossy magazines, chitchatted with late-night hosts and provided fodder for gossip columns and broadsheet features while the uncouth executive partly responsible for their success maintained his special status in Beverly Hills and TriBeCa.

    Somehow the whispers concerning his alleged hotel-room and workplace abuses never threatened his next big deal, industry award or accolades, which included an honorary Commander of the British Empire appointment.

    The real story didn’t surface until now because too many people in the intertwined news and entertainment industries had too much to gain from Mr. Weinstein for too long. Across a run of more than 30 years, he had the power to mint stars, to launch careers, to feed the ever-famished content beast. And he did so with quality films that won statuettes and made a whole lot of money for a whole lot of people.

    “The unfortunate reality of Hollywood is that if someone has money, then they can generally find some kind of audience of people who are interested in working with them,” said Kim Masters, the editor at large at The Hollywood Reporter. This was particularly true of Mr. Weinstein, who, she said, was known for having “the golden touch” that produced “Pulp Fiction” and “Good Will Hunting,” “The King’s Speech” and “Shakespeare in Love.”
    Ms. Masters had been chasing the Weinstein story for years. She said she had gotten near “the end zone” once, only to bump up against the ultimate silencer: fear.

    “At the last minute, the source withdrew,” she told me.

    She said she wanted to believe that times were changing, given the number of women who have put their names to the words that derailed the careers of Bill Cosby, who faced criminal charges that resulted in a mistrial this year, and Bill O’Reilly. But she also wondered aloud whether trouble had finally found Mr. Weinstein because he was no longer the rainmaker and hitmaker he had once been.

    “This industry is passionate about causes,” Ms. Masters said, “but when it comes down to doing business, they’re definitely capable of holding their noses.”

    With the knowledge that the Times article was heading toward publication, and with word of a similar piece in the works at The New Yorker, Mr. Weinstein assembled an all-star team of crisis-management experts and lawyers that included Lisa Bloom. Ms. Bloom, who said earlier this week that she was working only as an “adviser” to Mr. Weinstein, said she resigned from her role Saturday. She is known for her work representing alleged (and often confirmed) victims of sexual harassment, including those who took on Mr. O’Reilly.

    Ms. Bloom shared one reason she may have been sympathetic to Mr. Weinstein on Twitter in April, when she wrote, “My book SUSPICION NATION is being made into a mini-series, produced by Harvey Weinstein and Jay Z!”

    Mr. Weinstein has admitted to some inappropriate behavior, and Ms. Bloom has attributed his missteps to his status as a “dinosaur” who is now “learning new ways.”

    Minnie Driver and Matt Damon in “Good Will Hunting,” a 1997 film produced by Mr. Weinstein. Credit George Kraychyk/Miramax Foto de: George Kraychyk/Miramax
     
    Certainly, shamefully, there is a long tradition of disgusting harassment of women who try to make it in the movie business. (Jack L. Warner, a founder of Warner Bros. studios, was no saint.)

    The image that Mr. Weinstein had concocted for himself — that of a classic Hollywood type, the hot-tempered but charming mogul — took a serious hit in 2015 when an aspiring actress, Ambra Battilana, accused him of groping her at his TriBeCa offices. The New York Police Department’s Special Victims Division investigated the matter, resulting in a lot of bad press and some hard questions from his board. As the Times investigation revealed, however, no charges materialized after Mr. Weinstein paid off his latest accuser in a confidential settlement.
    Hollywood isn’t the only industry still abiding behavior that never had a rightful place in civilized society. Not at all. But it stands out because the industry often holds itself up as a force for moral good, its awards ceremonies filled with beribboned attendees.

    As my colleagues who wrote the investigative article about Mr. Weinstein, Jodi Kantor and Megan Twohey, noted, he was allegedly harassing women in five-star hotel rooms across the globe even as his company was distributing films like “The Hunting Ground,” a 2015 documentary about sexual assault on college campuses. He also helped endow a “Gloria Steinem” faculty chair at Rutgers; joined a national women’s march in Park City, Utah, in January; and was a big fund-raiser for and supporter of Hillary Clinton.

    The same day that The Times broke the story about Mr. Weinstein, Bloomberg News reported that State Street, the bank behind the famous “fearless girl” statue staring down the Wall Street bull, paid $5 million to some 300 female executives after a federal audit determined it had paid them less than their white male counterparts. State Street disagreed with the audit. But as in the case of Mr. Weinstein, the face it presented to the world was woefully contradicted by the charges about its out-of-view behavior.

    The allegations against Mr. Weinstein have come to light several years after similar stories concerning Mr. Cosby. The charges against the once-beloved comedian and sitcom star had been floating around for years. But they generally stayed hidden — and did not figure in the biography of Mr. Cosby by the former Newsweek editor Mark Whitaker, published shortly before his public image unraveled — because of what my predecessor, David Carr, described as Mr. Cosby’s “stalwart enablers” and “ferocious lawyers.”

    Mr. Weinstein had his own enablers. He built his empire on a pile of positive press clippings that, before the internet era, could have reached the moon. Mr. Carr wrote in a 2001 New York magazine profile of Mr. Weinstein, of whom he was an astute observer: “As the keeper of star-making machinery, Weinstein has re-engineered the media process so that he lives beyond its downsides.”

    Every now and then, glimpses of his nasty side spilled out, like when he placed the reporter Andrew Goldman in a headlock and dragged him out of a party in 2000. Someone who was involved in that altercation, Rebecca Traister, wrote in New York’s The Cut on Thursday that it didn’t get the media attention it deserved because “there were so many journalists on his payroll, working as consultants on movie projects, or as screenwriters, or for his magazine.”

    Let’s hope that those in the know did not include members of the Los Angeles Press Club, which this year gave Mr. Weinstein its “Truthteller Award,” calling him an example of “integrity and social responsibility,” along with Jay-Z. (The mogul received the honor because of his producing “Time: The Kalief Browder Story,” a Spike TV documentary series about a 16-year-old who spent three years in Rikers Island awaiting a trial that never took place.)
    The Press Club might want to rethink the award given that Mr. Weinstein has hired the emerging leader of anti-press jurisprudence, Charles Harder, who brought the case that put Gawker out of business last year.

    And what about the eerie Hollywood silence? As The Daily Beast noted, Lena Dunham was one of the few who spoke out against Mr. Weinstein. It sure was a departure from the delight that greeted the charges against the conservative Mr. O’Reilly. Behind the scenes in Los Angeles, as Janice Min, a former editor of The Hollywood Reporter, told me, “I can guarantee the second that story hit yesterday, several men called their attorneys.”

    There will be questions for those who knew what was going on but did nothing, for the agents who dispatched would-be stars to his hotel suites when they may have understood what the cost would be and for the editors and reporters who conveniently didn’t bother to look into the tales making the rounds.

    I asked Ms. Min how many other Harveys were out there.

    “No name comes up more than Harvey Weinstein in this sort of behavior,” she told me. But, she added, “I guarantee there are many more rocks to overturn.”

    The sooner, the better. It’s time for the era of open secrets to come to an end.

October 16, 2017

Gafieira Estudantina fecha as portas devido a uma dívida de R$ 785 mil

A Estudantina, berço da dança de salão, desde 1928, se despede da noite Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

por Leonardo Ribeiro
16/10/2017 4:30 / 0 GLOBO

foto Custódio Coimbra

A Gafieira Estudantina Musical, tradicional casa de dança de salão e patrimônio cultural da cidade, cumprirá uma ordem de despejo e fechará as portas hoje. A decisão é da 28ª Vara Cível do Rio, que determinou a desocupação do imóvel na Praça Tiradentes, onde a gafieira funciona desde 1932, devido a aluguéis atrasados.

— Ultimamente, a casa não estava faturando nem o dinheiro para a orquestra. Ficamos no vermelho durante mais de dois anos. Trabalhamos com um público da terceira idade, e a crise e a violência influenciam, fazendo com que as pessoas não saiam de casa — diz o diretor artístico, Paulinho da Estudantina.

Acervo O GLOBO: Febre da dança contaminou os cariocas em clubes, gafieiras e cabarés

Segundo ele, a dívida da Estudantina é de R$ 785 mil. Desde maio de 2005, a Ordem Terceira do Carmo, dona do sobrado onde funciona a gafieira, luta na Justiça pelo pagamento dos aluguéis. A ordem de despejo deveria ter sido cumprida em meados de setembro, mas os donos da casa conseguiram estender o prazo para a gravação do último capítulo da novela “A força do querer”, sexta-feira passada.

Ontem, foi dia de empacotar o que restava. Nenhum aviso foi deixado para o público. Paulinho espera que a situação se reverta logo e conta com o apoio da população.

— Este patrimônio da cidade não pode desaparecer. O que está acontecendo é um fracasso da noite carioca — considera Paulinho, que vai tentar uma audiência com o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, para tentar reverter a situação.

Antes de chegar à Praça Tiradentes, a Estudantina teve outros dois endereços. A casa abriu em 1928 na Rua Paissandu, no Flamengo. A iniciativa foi de dois jovens amigos que queriam divulgar a dança de salão. Como eles eram estudantes de direito, decidiram chamar a casa de Estudantina. Um ano depois, a gafieira mudou para a Praça José de Alencar, também no Flamengo.
 

October 15, 2017

Cunha recebeu R$ 1 mi para 'comprar' votos do impeachment de Dilma, diz Funaro


 

O operador financeiro Lúcio Funaro afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que repassou R$ 1 milhão para o ex-deputado Eduardo Cunha "comprar" votos a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Funaro disse que recebeu uma mensagem de Cunha, então presidente da Câmara, dias antes da votação no plenário, ocorrida em 17 de abril.

"Ele me pergunta se eu tinha disponibilidade de dinheiro, que ele pudesse ter algum recurso disponível pra comprar algum voto ali favorável ao impeachment da Dilma. E eu falei que ele podia contar com até R$ 1 milhão e que eu liquidaria isso para ele em duas semanas no máximo", disse.

A Folha teve acesso ao depoimento (assista a todos os vídeos aqui) prestado por Funaro à PGR em agosto deste ano. Seu acordo de delação foi homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).

No depoimento, uma procuradora questiona: "Ele (Cunha) falou expressamente comprar votos?". Funaro respondeu: "Comprar votos".


O delator disse que o valor de R$ 1 milhão acabou sendo repassado. "Consolidou esse valor?", perguntou a PGR. "Consolidei o valor", disse o operador, preso na Papuda.


"Depois de uma semana de aprovado o impeachment, comecei a enviar dinheiro para ele (Cunha) ir pagando os compromissos que ele tinha assumido", disse Funaro. Segundo ele, o dinheiro foi entregue em Brasília, Rio e São Paulo.


O delator deu como exemplo de deputado "comprado" o nome de Aníbal Gomes (PMDB-CE), que acabou faltando à sessão de votação do impeachment.

"Tem um caso até hilário, mas um dos deputados que ele (Cunha) comprou e pagou antecipado, pelo que ele me disse, foi o Aníbal Gomes. Ele disse que tinha pago para o Anibal Gomes R$ 200 mil para o Anibal Gomes votar favorável ao impeachment. O que aconteceu? O Anibal Gomes não veio no dia da votação, faltou", afirmou Funaro. "Aí ele (Cunha) ficou louco (...). O cara deu a volta nele", disse o delator.

Procurado pela Folha, Aníbal Gomes afirmou que as declarações de Funaro são "uma mentira deslavada". O deputado disse que não conhece o operador e que "nunca recebeu dinheiro de Eduardo Cunha". Aníbal afirmou que faltou na votação do impeachment porque estava em São Paulo, "operado da coluna".

A Câmara aprovou a instauração do processo de impeachment com 367 votos favoráveis. O Senado acabou condenando a petista, que deixou o cargo no segundo semestre do ano passado.

FOLHA DE SÃO PAULO, OUTUBRO 2017

October 13, 2017

No fundo do mar


Marcus Faustini

Como o prefeito é capaz de se pronunciar como protetor da infância se não está nas ruas acolhendo centenas delas?

Uma das maiores obscenidades do Brasil é contra suas crianças, pobres, em situação de vulnerabilidade social. Nas grandes cidades, como no Rio de Janeiro, o número de crianças e adolescentes que moram nas ruas, expostas à própria sorte, persiste. Viver em situação de rua cria um círculo de exposição a assédios que abala a dignidade humana e seduz para práticas de delitos. Não é comum assistirmos a virulentas manifestações contra essa situação e, agravando a situação, presenciamos um desmonte de políticas públicas de direitos para essas crianças.

Não são raras as vezes em que prevalece uma perversidade como reação quando o assunto é criança de rua: culpar os próprios meninos e meninas por estarem nessa situação e incentivar o tratamento delas como lixo da sociedade que deve ser jogado para debaixo do tapete. Muitos querem distância disso! A naturalidade com que esta fratura social é aceita, como se fosse apenas mais uma característica inevitável de nossos tempos, revela mais um aspecto da estrutura de desigualdade do país que acredita ser plausível a existência de gente sem acesso a dignidade mínima. É vergonhoso pensar que o número de crianças nas ruas cariocas esteja perto de poucas centenas, e nenhuma alternativa que promova rotas de fuga seja a aposta a ser feita.

Na cidade do Rio de Janeiro, gestores de programas governamentais e projetos apontam nas redes sociais o esvaziamento de centros de acolhimentos para essas crianças nos últimos meses. Um dos exemplos é o projeto Casa Viva, rede de abrigos anteriormente apoiados pela prefeitura e que agora estão fechados. As centrais de recepção de crianças e adolescentes em situação de rua estão lotadas e não existe nenhum lugar de acolhimento e encaminhamento em funcionamento. Mas, seguindo a regra de como o país ignora esse drama, esse desmantelo segue invisível, sem pressão da opinião pública. Ao mesmo tempo, o atual prefeito não pensou duas vezes em publicar um vídeo nas redes sociais em que, de forma irônica, diz que não vai aceitar as exposições artísticas que, em sua visão, incitam a pedofilia e zoofilia na cidade. Termina dizendo que o lugar delas seria “o fundo do mar” — numa referência ao Museu de Arte do Rio, o MAR, que teria se colocado como possível expositor da “Queermuseu”, com obras de artistas que supostamente violam princípios morais e religiosos. Ao mesmo tempo, o vídeo pegou carona na reação, iniciada pelo MBL e Bolsonaro, a uma performance no MAM (SP), onde um artista nu convida o público a mexer no seu corpo. Um outro vídeo que mostra uma criança acompanhada da mãe junto com o artista em ação disparou violentas reações nas redes e estimulou uma ação com agressão física a funcionários do MAM.

Como parte da sociedade pode ter uma reação tão arrebatadora a obras de arte e ficar quieta com crianças expostas nas ruas? Como o prefeito da cidade é capaz de se pronunciar como um protetor da infância se não está nas ruas procurando soluções e acolhendo centenas delas?

Depois de deixar acabar a comida das unidades de acolhimento a moradores de rua, adultos e crianças, nos últimos meses, a prefeitura mobilizou a Igreja Universal pedindo doação para esses espaços. Na opinião de algumas pessoas que trabalham com ações de proteção a infância e juventude — que preferem não se identificar por receio de represálias — existe um claro desmonte da política pública para repassá-la a grupos religiosos. Dados da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos apontam que existiam cerca de 11 mil pessoas morando nas ruas da cidade até o final do primeiro semestre de 2017, sendo cerca de 9% de crianças, adolescentes e jovens. Um quadro capaz de ser revertido.

O bonde que Crivella pegou, reagindo a obras de arte, faz parte de uma estratégia de setores conservadores da política brasileira para crescerem no meio da descrença generalizada a que assistimos com a política. Mais uma vez, usam da criação de tensões com a arte, criando inimigos, para se promoverem como guardiões da moral, do bom costume e receberem adesão aos seus grupos e posteriores candidatos. E, com isso, esvaziam a política como o espaço de possibilidade de diminuição das desigualdades sociais e proteção de direitos. Ficam repetindo a lógica do bem contra o mal para esconder fragilidades de seus projetos de poder que passam longe de melhorar a vida das pessoas.

Está claro que a revolta produzida com a exposição “Queermuseu” e com a performance no MAM é fake, produzida, não tem como intenção a defesa de direitos para a infância. Em cada palavra dita nesse episódio existe a estimulação à violência nas redes e nas ruas. O papel de um gestor, nesse caso, seria juntar as instâncias da arte e de direitos da infância para encontrar uma saída.

Desejar que coisas estejam no fundo do mar é um ato falho, ao gosto de práticas autoritárias, aquelas que jogam as diferenças em calabouços ou no fundo do mar.

O GLOBO, OUTUBRO 2017 

October 11, 2017

Infância marcada: uma cena difícil de esquecer

Rotina de mortes, que força meninos e meninas passarem próximos a cadáveres, pode prejudicar formação de filhos de moradores

 

 Desolador. De olhos vendados, crianças atravessam viela onde havia corpo ensanguentado - José Lucena / Estadão

por

Um gesto de amor pelos filhos. Assim a psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ)Marcia Ganime, especialista em psicoterapia da infância pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ, definiu a atitude da mãe das crianças, flagradas em foto publicada nesta terça-feira na primeira página do GLOBO, que resolveu cobrir os olhos dos filhos com peças de roupas para evitar que eles vissem, na manhã de anteontem, um corpo crivado de balas e coberto de sangue nas vielas da Rocinha, a caminho da escola. A cena expõe a violência que já faz parte da história de vida de milhares de crianças da favela.

LEIA TAMBÉM: Rocinha tem nove escolas fechadas e mais de 2,7 mil sem aulas.

— Não se pode esconder a realidade das crianças, mas elas não precisam ficar expostas à violência de forma tão agressiva. Processar a violência para uma criança é mais difícil porque ela está em formação — analisou Marcia, acrescentando que crianças submetidas a situações violentas tendem a ser mais assustadas, agressivas, a ter distúrbios alimentares e dificuldade para dormir.

Localizada nesta terça-feira, a mãe das crianças, de 50 anos, não quis comentar o caso. Um vizinho contou que ela vive da venda de colares e pulseiras artesanais para turistas que visitam a favela. Com o dinheiro, ela não só sustenta os quatro filhos, mas também cuida de três netos. Para não faltar nada à família, ela também recolhe latinhas de alumínio para reciclagem.


A foto que retrata como a guerra na Rocinha impacta as crianças da comunidade foi feita pelo repórter fotográfico José Lucena, da agência Fotoarena. A rotina de tiroteios virou uma preocupação para os pais das crianças. Leonora, de 12 anos, aluna do 4º ano na Escola Municipal Francisco de Paula Brito, diz que sente muito medo quando os confrontos começam. Ela diz que se esconde dentro de casa, na localidade conhecida como Dionéia.

— Fico muito triste. Atrapalha meus estudos. Nessas horas, fico torcendo para que os tiros acabem logo — disse a menina, que ontem ia para o trabalho com o pai.

A neuropsicóloga do Solace Institute Paula Emerick observa que “uma criança em contato com situações de violência intensa pode ter mais propensão ao consumo de drogas”:

— A gente sabe que a droga tem um efeito anestésico, de tirar a pessoa da realidade.
Larissa, de 11 anos, que mora com cinco irmãos, conta como lida com a violência:


— Quando começa a confusão, pego minhas bonecas e fico brincando. Isso me distrai. Eu não sei por que os tiros começam e nem por que terminam — contou ela que estuda na Escola Municipal Shakespeare, próximo ao Hospital da Lagoa.

Michele, de 14 anos, é nova na Rocinha. Chegou há cerca de um mês de Fortaleza e estuda numa escola da Gávea. Ontem, ela, assim como 2.769 estudantes de nove unidades da favela e do entorno, não tiveram aulas. Michele lamentou a perda de um dia de estudo:

— Moro com uma tia e um irmão. Quando ela sai para trabalhar, ficamos sozinhos. Aprendemos que não devemos ficar perto de janelas durante tiroteios. Sinceramente, não sei o que fazer. Vim para estudar, mas as aulas estão sempre suspensas. Eu e meu irmão ainda estamos aprendendo a viver na Rocinha.

 

October 10, 2017

O Brasil pode perder talentos e sofrer danos irreversíveis


Físicos franceses Claude Cohen-Tannoudji e Serge Haroche assinaram carta a presidente Michel Temer pedindo revisão de cortes de verbas para a ciência




por
/ O GLOBO  

O governo brasileiro cortou 44% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações este ano, e planeja uma nova tesourada de 15,5% para 2018. Por que o senhor decidiu se manifestar?

CLAUDE COHEN-TANNOUDJI: Muitos cientistas ficaram chocados com o anúncio desse corte. A ciência é internacional, então todos os países se preocupam com os outros.

SERGE HAROCHE: Nós, como vencedores do Nobel, temos o dever de falar em defesa da ciência. O prêmio é um grande prestígio e, consequentemente, o que dizemos costuma ser ouvido. Mas falta saber se esta carta terá algum efeito concreto.


É comum que um país em crise econômica corte financiamento para o setor?

COHEN-TANNOUDJI: Infelizmente, estes casos são frequentes. Os políticos não percebem a importância da ciência e da tecnologia. Não entendem que um corte severo no financiamento pode ter consequências drásticas no longo prazo.

HAROCHE: Claro que, quando o dinheiro se torna escasso, todos os setores financiados pelo governo são impactados. A ciência e a tecnologia não são uma exceção. Tivemos cortes na França após a última crise econômica e os efeitos ainda estão conosco. Se a redução de verbas for de apenas alguns por cento por ano, os cientistas podem lidar com isso. Reduzem suas atividades, contratam menos alunos e esperam por tempos melhores. No entanto, o Brasil fez um corte enorme. A situação é muito mais dramática.


Diante do corte, o senhor acredita que o país passará por uma perda de cérebros?

COHEN-TANNOUDJI: Este é o maior perigo. Quando bons cientistas estão em uma situação em que não podem mais continuar em atividade, são tentados a deixar seus países.

HAROCHE: É muito provável. Por que um jovem brilhante vai querer embarcar em uma carreira científica em um país onde não terá meios de fazê-lo? Sem receber condições melhores de trabalho, ele não terá opção senão cortar seus laços com o Brasil. E também há pessoas que podem ficar, mas decidem dedicar-se a outras atividades, como finanças ou gestão.



O que pode acontecer com um grupo de pesquisas que sofre um grande corte de verbas? É possível que se recupere após a crise?

COHEN-TANNOUDJI: Depois de uma redução como a imposta pelo governo brasileiro, o laboratório perde a sua ordem. Os experimentos são interrompidos e, por isso, torna-se extremamente difícil recuperar bons resultados depois que as finanças forem restabelecidas. Na maioria das vezes, isso pode demorar muitos anos. Em alguns casos, o prejuízo é irreversível.

HAROCHE: Em diversas áreas, a experiência adquirida depois de anos de trabalho é perdida e não pode ser recuperada mais tarde, mesmo que a economia melhore. Na competição internacional, não se pode perder muito terreno. Isso seria especialmente doloroso para o Brasil, que fez grandes avanços nas últimas duas décadas, graças ao aumento do orçamento e às contratações de bons cientistas nas universidades. Na ótica quântica, o meu campo de estudo, há ótimos grupos de pesquisa brasileiros, que publicam artigos em revistas de excelência. O país não deve perder seus esforços por uma decisão irresponsável.


O senhor acredita que os cientistas sabem dialogar com a população?

COHEN-TANNOUDJI: Deveríamos gastar mais tempo explicando aos políticos e ao público em geral a importância da ciência e da tecnologia para resolver os problemas de energia, meio ambiente, saúde, alimentação... Precisamos melhorar o nível cultural da população. Infelizmente, a mídia não dedica muita atenção a estes problemas porque acredita que as pessoas não estão interessadas em assuntos científicos.

HAROCHE: Admito que podemos melhorar. Devemos falar sobre nosso trabalho para a sociedade, que está pagando nossa pesquisa através de impostos, e também para os políticos, responsáveis pela distribuição desse dinheiro. Mas a ciência é sutil e não pode ser explicada em uma ou duas frases, que é o tempo geralmente atribuído a ela nos meios de comunicação. Nossos estudos demoram décadas para atingir resultados. E a política, por sua vez, é um negócio de curto prazo. Por isso, temos dificuldade em sublinhar a importância de um esforço contínuo.


Como podemos comparar o cenário científico brasileiro com o de outros países emergentes?

COHEN-TANNOUDJI: Antes deste corte, o desempenho do Brasil em ciência e tecnologia era comparável ao de outros países em desenvolvimento. Mas alguns emergentes eram melhores. Os investimentos da China no setor são impressionantes.

HAROCHE: Considerando o tamanho de sua população e a quantidade de recursos naturais, o Brasil realiza uma fração muito pequena do que outros países em desenvolvimento estão fazendo.


O Brasil pode ganhar um Prêmio Nobel a curto prazo?
 
COHEN-TANNOUDJI: Se o atual corte não for cancelado, certamente não vencerá. Mas, em condições normais, não vejo empecilhos.

HAROCHE: Na situação atual, é muito difícil esperar um Nobel para o Brasil em um futuro próximo. Isso não significa que não existam bons cientistas no país. Se eles receberem as condições necessárias para trabalhar e treinar estudantes, certamente construirão uma base para um trabalho de qualidade, de onde virá o prêmio. Mas isso levará tempo.
 
O senhor aconselharia um estudante brasileiro a deixar o país?

COHEN-TANNOUDJI: Ficaria muito triste se tivesse que fazê-lo. Espero que o governo entenda que seria dramático desencorajar os jovens que são essenciais para o desenvolvimento nacional.

HAROCHE: Atualmente, eu certamente faria isso. Jovens cientistas precisam de condições para trabalhar, não são responsáveis pelo estado da ciência em seu país e têm tempo limitado para produzir conhecimento. Não poderia aconselhá-los a sacrificar sua paixão. Espero que as condições melhorem e que esta partida não seja necessária.

October 8, 2017

October 4, 2017

A ONU, o corrupto e o Exército


Aldir Blanc

Grande frase de Mirabeau, político, jornalista, conde, considerado “o orador do povo”. Sua morte teria precipitado a Revolução Francesa: “Todos os Estados têm um Exército, mas, na Prússia, o Exército tem um Estado.” Voltarei à frase de Mirabeau no final.

Temereca foi mentir na ONU. No dia seguinte, especialistas de todas as áreas desmentiram o presicalhorda.

Aos fatos: o desmatamento piorou. Os ruralistas, comandados por Sepulcro Caiado e Blai-Blairo do Caldinho (o que tem casas e escritórios revistados pela Polícia Federal, aparece em sei lá quantas denúncias seriíssimas e continua no cargo) fazem e, principalmente, desfazem. Temeroso não se referiu aos constantes — e crescentes — massacres, mãos decepadas, perpetrados contra índios, quilombolas e sem-teto. Dois deles, bem recentes, na Alta Amazônia, teriam causado a morte de dezenas de índios. Só vazou porque garimpeiros bêbados se vangloriavam numa tendinha do genocídio, a mando de figura ruralista local. Portavam enfeites e artefatos dos índios mortos. Várias autoridades internacionais se manifestaram contra o crime, o enésimo, e vai continuar. O ministério da Justi$a e a antiga Funai, atual Fumou-se, calaram.

Sobre o desemprego, mais mentiras. Continua em cerca de 14 milhões. O pogresso é que os na pior, doidos pra arranjarem o que comer, se tornam camelôs, vendem quentinhas, traficam mercadoria roubada dos caminhões de carga — situação que piorou, apesar das asneiras de “segurança” cuspidas pelas Quatro Cavalgaduras do Apocolapso, Treme-Temer, Burrico Maia, o sinistro da justi$a e Jing-Jong, aquele que, em plena matança na Grande Vitória, fugiu para Portugal e sentiu-se constrangido com a própria covardia. Se o quadro de violência no Rio melhorou, o que está ocorrendo na Rocinha?!?! Pezão quer a ajuda do Exército. Só que, em pleno “crescimento”, o Exército paralisou operações porque não tem verba! Esse é o êxito econômico de Temeroso & cúmplices. Ora, militares são — ou deveriam ser — homens sujeitos a uma severa disciplina, respeito à hierarquia etc. Sou 100% pelo respeito à Constituição, mas compreendo que alguns militares honestos se sintam muito mal sob o “comando-em-chefe” do ladrão Temereca. Aí, aparecem os gauchões, os duros, os que querem intervir e dizem que um artigo da Constituição os respalda. Já vejo as línguas bífidas dos coxinhas bundões fofocando nos restaurantes de luxo: “Se está na Constituição, então não é golpe”.
Quando a Polícia Federal denunciou o quadrilhão do PMPAYDAY, qual foi, no dia seguinte, a resposta do presifraude, chefe do quadrilhão, contra a PF? Aspas para o draculoso: “Facínoras roubam a verdade, criminosos renitentes etc.” Conheço policiais federais que ficaram indignados com essa afronta.

Voltando a Mirabeau, adaptado para nossos tempos: Todos os países têm seus corruptos, mas, no Brasil, os corruptos têm um país.

Como disse o prof. K. Rogoff: “Só o mercado de ações comemora”...

O GLOBO, SETEMBRO 2017